quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
Soneto de Natal _ Machado de Assis_
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,
Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.
Escolheu o soneto... A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.
E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
"Mudaria o Natal ou mudei eu?"
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
O Evangelho Segundo Jesus Cristo _ José Saramago_
Só tornou a acordar quando o galo cantou. A frincha da porta deixava passar uma cor grisalha e imprecisa, de aguada suja. O tempo, usando de paciência, contentara-se com esperar que se cansassem as forças da noite e agora estava a preparar o campo para a manhã chegar ao mundo, como ontem e sempre, em verdade não estamos naqueles dias fabulosos em que o sol, a quem já tanto devíamos, levou a sua benevolência a ponte de deter, sobre Gabaon, a sua viagem, assim dando a Josué tempo de vencer, com todos os vagares, os cinco reis que lhe cercavam a cidade. Josué sentou-se na esteira, afastou o lençol, e nesse momento o galo cantou a segunda vez, lembrando-lhe que se encontrava em falta de uma benção, aquela se deve à parte de méritos ao galo coube quando da distribuição que dele fez o Criador pelas suas criaturas, Louvado sejas tu, Senhor, nosso Deus, rei do universo, que deste ao galo inteligência para distinguir o dia da noite, isto disse José, e o galo cantou terceira vez. Era costume, aos primeiros sinais destas alvoradas, responderem-se uns aos outros os galos da vizinhança, mas hoje ficaram calados, como se para eles a noite ainda não tivesse terminado ou mal tivesse começado. José, perplexo, olhou o vulto da mulher, estranhando-lhe o sono pesado, ela que o mais ligeiro ruído fazia despertar, como um pássaro. Era como se uma força exterior, descendo, ou pairando, sobre Maria, lhe comprimisse o corpo contra o solo, porém não tanto que a imobilizasse por completo, notava-se mesmo, apesar da penumbra, que a percorriam súbitos estremecimentos, como a água de um tanque tocada pelo vento. Estará mal, pensou, mas eis que um sinal de urgência o distraiu da preocupação incipiente, uma instante necessidade de urinar, também ela muito fora do costume, que estas satisfações, na sua pessoa, habitualmente manifestavam-se mais tarde, e nunca tão vivamente. Levantou-se, cauteloso, para evitar desse pelo que ia fazer, pois escrito está que por todos os modos se deve preservar o respeito de um homem, só quando de todo em todo não for possível, e, tendo aberto devagar a porta que rangia, saiu para o pátio. Era a hora que o crepúsculo matutino cobre de cinzento as cores do mundo. Encaminhou-se para um alpendre baixo, que era a barraca do jumento, a aí se aliviou, escutando, com uma satisfação meio consciente, o ruído forte do jacto de urina sobre a palha que cobria o chão. O burro voltou a cabeça, fazendo brilhar no escuro os olhos saliente, depois sacudiu com força as orelhas peludas e tornou a meter o focinho na manjedoura, a tentear os restos da ração com beiços grossos e sensíveis. José aproximou-se da talha das abluções, inclinou-a, fez correr a água sobre as mãos, e depois, enquanto as enxugava na própria túnica, louvou a Deus por, em sua sabedoria infinita, ter formado e criado nos homens os orifícios e vasos que lhe são necessários à vida, que se um deles se fechasse ou abrisse, não devendo, certa teria o homem a sua morte. Olhou o céu, e em seu coração pasmou. O sol ainda tarda a desperta, não há, por todos os espaços celestes, o mais lavado indício dos rubros tons do amanhecer, sequer uma pincelada leve de róseo ou de cereja mal madura, nada, a não ser, de horizonte a horizonte, tanto quanto os muros dos pátios lhe permitiam ver, em toda a extensão de um imenso tecto de nuvens baixas, que eram como pequenos novelos espamaldos, iguais, uma cor única de violeta que, principiando já a torna-se vibrante e luminosa do lado donde há-de romper o sol, vai progressivamente escurecendo, mais e mais, até se confundir com o que, do lado de além, ainda resta a noite. Em sua vida, José nunca vira um céu como este, embora nas longas conversas dos homens velhos não fossem raras as notícias de fenómenos atmosféricos prodigiosos, todos eles mostras do poder de Deus, arcos-íris que enchiam metade da abóbada celeste, escadas vertiginosos que um dia ligariam o firmamento à terra, chuvas providenciais de manjar-dos-céus, mas nunca essa cor misteriosa que tanto podia ser das primordiais como das derradeiras, flutuando e demorando-se sobre o mundo, um tecto de milhares de pequenas nuvens que quase se tocavam umas as outras, espalhadas em todas as direções como as pedras dos desertos. Encheu-se-lhe o coração de temor, imaginou que o mundo ia acabar, e ele posto ali, única testemunha da sentença final de Deus, sim, única, há um silêncio absoluto na terra como no céu, , nenhum rumor se ouve nas casas vizinhas, uma voz que fosse, um choro de criança, uma prece ou uma imprecação, um sopro de vento, o balido duma cabra, o ladrar dum cão, Por que não cantam os galos, murmurou, e repetiu a pergunta, ansiosamente, como se de cantarem galos é que pudesse vir a última esperança de salvação. Então o céu começou a mudar. Pouco a pouco, quase sem percebe-se, o violeta tingia-se e deixava-se penetrar de rosa-pálido na face interior do tecto de nuvens, avermelhando-se depois, até desaparecer, estava ali e deixar de estar, e de súbito o espaço explodiu num vento luminoso, multiplicou em lanças de ouro, ferindo em cheio e trespassando as nuvens, que, sem saber-se porquê nem quando, haviam crescido, tornadas formidáveis, barcas gigantescas arvorando encandescentes velas e vogando num céu enfim liberto. Desafogou-se, então sem medos, a alma de José, os olhos dilataram-se-lhe de assombro e reverência, não era o caso para menos, de mais sendo ele o único espectador, e sua boca proferiu em voz forte os louvores devido ao criador das obras da natureza, quando a sempterna majestade dos céus, tendo-se tornado pura inefabilidade, não pode esperar do homem mais do que as palavras mais simples, Louvado sejas tu, Senhor, por isso, por aquilo, por aqueloutro. Disse-o ele, e nesse instante o rumor da vida, como se o tivesse convocado a sua voz, ou apenas entrando de repente por uma porta que alguém de par em par abrisse sem pensar muito nas consequências, ocupou o espaço que antes pertencera ao silêncio, deixando-lhe apenas pequenos territórios ocasionais, mínimas superfícies, como aqueles breves charcos que as florestas murmurantes rodeiam e ocultam. A manhã subia, expandia-se, e em verdade era uma visão de beleza quase insuportável, duas mãos imensas soltando aos ares e ao voo uma cintilante e imensa ave-do-paraíso, desdobrando em radioso leque a rodo de mil olhos da cauda do pavão real, fazendo cantar perto, simplesmente, um pássaro sem nome. Um sopro de vento ali mesmo nascido bateu na cara de José, agitou-lhe os pêlos da barba, sacudiu-lha as túnicas e depois girou à volta dele como um espojinho atravessando deserto, ou isto que assim lhe parecia não era mais que o aturdimento causado por uma súbita turbulência do sangue, o arrepio sinuoso que lhe estava percorrendo o dorso como um dedo de fogo, sinal de uma outra e mais insistente urgência.
Como se se movesse no interior da rodopiante coluna de ar, José entrou em casa, cerrou a porta atrás de si, e ali ficou encostado por um minuto, aguardando que os olhos se habituassem à meia penumbra. Ao lado dele, a candeia brilhava palidamente, quase sem irradiar luz, inútil. Maria, deitada de costas, estava acordada e atenta, olhava fixamente um ponto em frente, e parecia esperar. Sem pronunciar palavra, José aproximou-se e afastou devagar o lençol que a cobria. Ela desviou os olhos, soergueu a parte inferior da túnica, mas só acabou de puxá-la para cima, à altura do ventre, quando ele já se vinha debruçando e procedia do mesmo modo com sua própria túnica, e Maria, entretanto, abriu as pernas, ou as tinha aberto durante o sonho e dessa maneira as deixara ficar, fosse por inusitada indolência matinal ou pressentimento de mulher casada que conhece os seus deveres. Deus, que está em toda a parte, estava ali, mas, sendo aquilo que é, um puro espírito, não podia ver como a pele de um tocava a pele do outro, como a carne dele penetrou a carne dela, criadas umas e outras para isso mesmo, e, provavelmente, já nem lá se encontraria quando a semente sagrada de José se derramou no sagrado interior de Maria, sagrados ambos por serem a fonte e a taça da vida, em verdade há coisas que o próprio Deus não entende, embora as tivesse criado. Tendo pois saído para o pátio, Deus não pôde ouvir o som agónico, como um estertor, que saiu do varão no instante da crise, e menos ainda o levíssimo gemido que a mulher não foi capaz de reprimir. Apenas um minuto, ou nem tanto, repousou José sobre o corpo de Maria. Enquanto ela puxava para baixo a túnica e se cobria com o lençol, tapando depois a cara com o antebraço, ele, de pé no meio da casa, de mãos levantadas, olhando o tecto, pronunciou aquela sobre todas terrível bênção, aos homens reservada, Louvado sejas tu, Senhor, nosso Deus, rei do universo por não me teres feito mulher. Ora, a estas alturas, Deus nem no pátio devia estar, pois não tremeram as paredes da casa, não desabaram, nem a terra se abriu. Apenas, e pela primeira vez, se ouviu Maria, e humildemente dizia, como de mulheres se espera que seja sempre a voz, Louvado sejas tu, Senhor, que me fizeste conforme a tua vontade, ora, entre essas palavras e as outras, conhecidas e aclamadas, não há diferença nenhuma, repare-se, Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra, está patente que quem lhe disse isto, podia, afinal, ter dito aquilo. Depois, a mulher do carpinteiro José levantou-se da esteira, enrolou-a lentamente com a do marido e dobrou o lençol comum.
domingo, 21 de dezembro de 2008
Andreia Dias
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
SOLIDÃO VISTA PELO CHICO BUARQUE
Macroprograma: Regionalização do Turismo - SNPTur/SNPDTur
Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil É um dos principais elementos da execução da política do turismo e referência para todas as ações do Ministério, mapeou 200 regiões turísticas no Brasil, envolvendo 3.819 municípios. O referido programa foi lançado em abril de 2004 e propõe a estruturação, o ordenamento e a diversificação da oferta turística no País e se constitui no referencial da base territorial do Plano Nacional de Turismo 2007/2010, especialmente no que tange a meta de n° 3: “Estruturar 65 destinos turísticos com padrão de qualidade internacional”.
• Programa de Planejamento e Gestão da Regionalização
O programa integra um conjunto de projetos e ações relacionados ao planejamento das regiões turísticas nas 27 Unidades Federadas. Contempla desde atividades de articulação, sensibilização e mobilização até a elaboração e implementação dos planejamentos estratégicos das regiões turísticas. Tem efetiva atuação por meio da institucionalização de instâncias de governança regionais, na formação de redes e na monitoria e avaliação do processo de regionalização em âmbito municipal, estadual e nacional, com destaque para as ações integradas com países vizinhos.
Iinformações: planos@turismo.gov.br
• Programa de Estruturação dos Segmentos Turísticos
Este programa é norteado por duas linhas estratégicas: segmentação da oferta e da demanda do turismo e estruturação de roteiros turísticos. A segmentação da oferta e da demanda constitui uma forma de organizar o turismo. É uma estratégia para a estruturação de produtos e consolidação de roteiros e destinos, a partir dos elementos de identidade de cada região, em função da demanda. Tais elementos caracterizam os principais segmentos da oferta turística trabalhados pelo programa: Turismo Cultural, Turismo Rural, Ecoturismo, Turismo de Aventura, Turismo de Esportes, Turismo Náutico, Turismo de Saúde, Turismo de Pesca, Turismo de Estudos e Intercâmbio, Turismo de Negócios e Eventos, Turismo de Sol e Praia, entre outros tipos de turismo.
Principais Ações Relacionadas
Política de Atendimento aos Segmentos Turísticos
• Programa de Apoio ao Desenvolvimento Regional do Turismo
Os programas regionais de desenvolvimento do turismo têm como objetivo a estruturação das áreas turísticas de cada região de forma a beneficiar a população residente pela dinamização da atividade turística. Visa à implantação de infra-estrutura turística tendo em vista o desenvolvimento integrado das áreas prioritárias identificadas pelos estados. O programa aborda uma gama de ações: elaboração de planos diretores participativos municipais, fortalecimento da gestão administrativa e fiscal do município, da gestão do turismo dos estados e municípios, de capacitação de mão-de-obra e empresarial, estudos de mercado turístico, planos de gestão ambiental, planos de marketing, intervenções em infra-estrutura de transporte, de saneamento ambiental, de conservação de patrimônio histórico e ainda promover o desenvolvimento local e a qualidade de vida para a população. Divide-se em quatro programas que atendem diferentes regiões: PRODETUR NE II, que agrupa os estados da Região Nordeste e o norte dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo; PRODETUR SUL, que engloba os estados da Região Sul e o estado de Mato Grosso do Sul; PROECOTUR, engloba os estados brasileiros da Amazônia Legal; e o PRODETUR JK, que atenderá os estados da Região Sudeste, Goiás e Distrito Federal. Cada região conta com o programa em desenvolvimento em diferentes fases. PRODETUR NORDESTE II conta com recursos de financiamento internacional – BID – para sua implementação. PRODETUR SUL vem sendo executado com recursos do governo federal. PROECOTUR, em sua a Fase I, está focado no planejamento estratégico visando ao desenvolvimento do ecoturismo na região. PRODETUR JK encontra-se em fase de estudos e preparação. PRODETUR NACIONAL Devido à abrangência do PRODETUR NACIONAL, o MTur negocia com o BID uma linha de crédito na qual os estados interessados em desenvolver o programa solicitam recursos diretamente ao BID, sob os auspícios do marco conceitual do programa para sua região. Caberá ao Ministério do Turismo, além da alocação da contrapartida federal ao programa, o apoio técnico aos estados na preparação de suas propostas e a execução de ações regionais e nacionais.
Principais Ações Relacionadas
PRODETUR: Fortalecimento da Capacidade de Gestão do Turismo
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Cruzeiros marítimos são tema de audiência pública
Mekong revelou mais de mil espécies novas em dez anos
15/12/08 - BBC BrasilWWF divulgou relatório com 1.068 espécies novas achadas entre 1997 e 2007.Mais de mil espécies novas de animais e plantas foram encontradas na última década na região do rio Mekong, segundo um relatório divulgado nesta segunda-feira pela organização ambientalista internacional WWF.A região do Mekong abrange o Camboja, Laos, Mianmar, Tailândia, Vietnã e China.A WWF afirma que, entre 1997 e 2007, 1.068 espécies novas foram catalogadas, entre elas a "lacraia dragão", um animal que produz cianureto e que chama atenção por suas cores vibrantes.A maior parte dos animais foi encontrada na selva ou em pântanos da região, mas alguns foram descobertos em lugares inesperados. O rato-da-pedra-laociano, uma espécie que seria descendente direta de um grupo de roedores que desapareceu há 11 milhões de anos, foi encontrado em um mercado de alimentos em Laos.Uma nova espécie de víbora verde foi achada próxima a um restaurante no parque nacional Khao Yai, na Tailândia."Essa região é como as histórias que eu lia sobre Charles Darwin quando eu era pequeno", disse Thomas Ziegler, um dos pesquisadores envolvidos.O relatório afirma que em dez anos foram encontradas 519 plantas, 279 peixes, 88 rãs, 88 aranhas, 46 lagartos, 22 cobras, 15 mamíferos, quatro pássaros, quatro tartarugas, duas salamandras e um sapo.